domingo, 5 de junho de 2011

Crônicas de um culto de domingo

“Eis que venho sem demora; guarda o que tens, para que ninguém tome a tua coroa.”


 



Devido ao alto nível de apostasia nos dias atuais,  a melhor
coisa que se pode fazer  é pedir a DEUS para que o pastor não fale muita
bobagem durante os cultos. Armado dessa fé é hora de sair de casa.


O longo tempo de ausência faz com que o último banco da igreja,
aquele que fica sempre vazio, seja o melhor local para um observador.


O culto começa…dois hinos edificantes e belos  são tocados; em
seguida,  entra o pastor em cena. Ele trás os ensinamentos e transforma a
passagem da mulher adúltera em uma palavra de esperança, fé , perdão e
renovação.


Vá  e não peques mais.Essa frase soa como um alivio do fardo pesado
que fica sobre as costas. Tudo isso edifica, fortalece e fica guardado
no coração.


Mas quando se menos assusta as repetições de frases positivistas
surgem para arrebatar o que foi plantando. O pastor transforma a voz dos
membros da igreja em seu eco: Diga a pessoa do seu lado (diz ele) .
Você vai vencer! Diga a pessoa do seu lado! Sua vida vai mudar! Diga a
pessoa do seu lado  (Blá, blá, blá..) Sorte o banco estar vazio. As
pessoas repetem as palavras de formas orquestradas como em um coral,
mesmo sem  conhecerem ou nunca terem visto quem se sentou ao  lado.Não
se sabe se é um cristão ou uma pessoa infiltrada.


Alguns bancos adiante, onde não reina a solidão do último banco, uma
senhora faz  um gesto new age e diz para a pessoa do lado, tal como
ordenou o pastor: Você vai vencer! O jovem rapaz retribui o gesto
fazendo o mesmo sinal com a palma da mão. Estranho e bizarro, mas tudo
prossegue.


A palavra edificante ainda está no coração, mas uma nova investida
vem sobre ele. O pastor toma o lugar dos levitas e começa a cantar,
cantar e cantar. O hino parece algo fabricado e puxa para o lado
emocional, mas logo vem o entendimento. O mesmo estava vendendo a sua
nova coleção de CDS.


A
ultima investida em tirar o que foi plantando vem na forma da
indulgência do dízimo. Diz o senhor pastor inspirado em Malaquias 3:10:
“Quem roubar a DEUS em seus dízimo não vai para o céu. Isso está em
Apocalipse”. Mas não cita em que lugar  ( Foi a primeira vez que esse
livro foi mencionado).


Um
jovem rapaz começa a suar e o medo de ser condenado ao inferno faz com
que procure algo no bolso. Ele não acha nada…revira a camisa e nada. Até
que lembra do seu cartão (a indulgência moderna) . O pobre rapaz em
busca da salvação levanta a mão com ele  e um obreiro corre com máquina
de débito para fazer a transação financeira. A leitura labial não
engana. A pergunta foi: É débito ou crédito meu irmão? (débito! débito!
em pensamento ele torce para essa opção)


Em um futuro próximo a cena pode se repetir com uma estrela de nove
pontas na testa acoplada a alguma espécie de chip e o obreiro passa o
scanner. Agora não será necessário saber se é débito ou crédito, pois a
transação é automática.  Justificativa: Dá até para forjar uma leitura
Bíblica errada como a que deu origem ao dizimo nesse dia.


Ora, a estrela de nove pontas ( indulgência do futuro) é o selo de
DEUS na testa  e  representa os nove frutos do espírito ( e não fruto do
espírito) . Nesse momento o pastor dirá: “Fale para o seu irmão do
lado: A estrela de nove pontas são os frutos do espírito”. Agora 
saudação meio  baphomet faz sentido.


Terminada a investida da indulgência, a igreja se transforma em um
shop tour. TV por assinatura, Dvds, Cds, camisetas,  claro cartões de
débito e crédito e ofertas, mas  antes que chegue o fim é hora de sair;
assim o que foi plantado no coração sobre a esperança permanecerá.


“Eis que venho sem demora; guarda o que tens, para que ninguém tome a tua coroa.”  (Apocalipse 3 : 11)

Nenhum comentário:

Postar um comentário